O tombamento de canaviais em várias cidades do interior do Estado de São Paulo, que tem dado origem a boatos sobre o pouso de óvnis, não tem nada de misterioso.
Mais do que isso - áreas tombadas em meio a canaviais têm explicações científicas e são comuns, até mesmo corriqueiras.
A avaliação é do engenheiro agrônomo Luís Fernando Zorzenon, da Secretaria de Estado da Agricultura (Cati/Ribeirão Preto).
“É um fato corriqueiro nos canaviais”, comenta. Segundo ele, entre os profissionais ligados a agricultura, em especial o pessoal que lida com a cana-de-açúcar, as notícias relacionando óvnis e canaviais tombados têm provocado boas risadas. “Eu mesmo já ri bastante”, revela.
“São muitas as possíveis causas para áreas de canaviais tombarem de um momento para outro”, diz o agrônomo.
Fertilidade
A explicação mais comum está relacionada a fertilidade do solo. Em casos de ampliação de canaviais (quando áreas de outras culturas são substituídas pela cana-de-açúcar), o tombamento chega a ser corriqueiro.
“Imagine uma área onde se cultivava soja ou café. Em algum lugar, um caminhão despejou uma montanha de calcáreo ou de esterco, que vai ser espalhado em volta. Ali, no local onde o caminhão despejou sua carga, a fertilidade do solo ainda está altíssima quando começa o plantio da cana”, comenta.
“E aquela cana, apenas aquela, vai crescer mais que o restante do canavial. Mais alta, tomba com mais facilidade, ao menor vento”, explica.
“O mesmo raciocínio vale para uma área de pasto. Onde hoje um canavial tombou podia estar, antes, o cocho do gado. É ao redor dele que o gado mais estruma. Ou seja, a terra é mais fértil, a cana vai crescer mais”, comenta.
Besouros
Outra possível explicação é a presença de pragas ou patógenos no solo, como besouros ou a broca da cana.
“Um canavial também pode tombar por causa desses fatores”, explica Zorzenon.
“É o caso do besouro da raiz da cana, o Midgolus, da família Cerambycidae. Ele consome o sistema radicular da planta, que enfraquece e deita. Uma área tombada pode estar simplesmente infectada”, alerta o engenheiro agrônomo da Coordenaria de Assistência Técnica Integral da Secretaria de Estado da Agricultura em Ribeirão Preto.
Zorzenon diz, brincando, que áreas de canavial tombado são muito mais comuns do que objetos voadores não identificados.
“Pelo menos canaviais tombados eu já vi muitos. Já disco-voador...”, comenta, bem-humorado.
Atraso da estação das chuvas pode ser outro motivo
Além de questões ligadas à fertilidade e a contaminação do solo, o tombamento de canaviais pode ter ainda outra causa.
“Há outra hipótese, essa uma causa natural. Todo mundo noticiou que a estação das chuvas atrasou no último ano, outubro e novembro foram muito secos, só em dezembro mesmo que as chuvas chegaram”, lembra Zorzenon.
“Pois aquela planta que, lá em outubro, não teve a irrigação necessária, cresceu mais fraca. Aquele gomo da cana, logo na superfície, não cresce para cima, apenas ‘engorda’”, explica.
Com a chegada da chuva, a planta cresce, mas aquele gomo inicial, que não foi irrigado adequadamente, continua mais fraco. “E aí bate um vento forte e aquele canavial pode tombar com facilidade”, diz.
Mas como isso ocorreria apenas num pedaço do canavial?
“Simples. Pode ser uma área de afloramento de rocha, que tem um solo mais raso, onde a chuva penetra pouco ou evapora muito”, esclarece Zorzenon.
Nas hipóteses aventadas por ele, basta um vento um pouco mais forte para tombar os pés de cana. “Apenas tombar, e não quebrar”, diz. Exatamente o que acontece em Riolândia.
Fonte de Informação Jornal a Cidade
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