terça-feira, 7 de fevereiro de 2017

A história do exército alienígena que pairou sobre os EUA

Uma noite quente de sábado, 19 de Julho de 1952, tornou-se uma das datas mais famosas na bizarra história dos ovni - sigla de objectos voadores não identificados, que já se tornou uma palavra de direito próprio.
Nessa noite, um piloto disse ter visto estranhos objectos, detectados também pelos radares de duas bases da Força Aérea Americana - Andrews e Bolling - e pelo Aeroporto Nacional de Washington.
Dois jactos F-94 foram no encalço dos discos voadores, mas nunca os encontraram. Uma semana mais tarde, a história repetiu-se.
Por toda a América, a história dos aviões militares em busca de discos voadores sobre a Casa Branca afastou a guerra da Coreia das primeiras páginas dos jornais. "'Disco voador' cruza-se com jacto, afirma um piloto", é a manchete do "The Washington Post".
"Jactos perseguem fantasmas nos céus de Washington", titula o "New York Daily News".
De certa forma tudo começou com Marilyn Monroe.
A actriz apareceu na capa da revista "Life" de 7 de Abril de 1952, com um vestido curto e provocante e um olhar sedutor.
Enfim, o tipo de capa que chama a atenção.
E sobre o ombro esquerdo de Marilyn, um título: "Os discos voadores interplanetários podem mesmo existir".
Eram relatados dez casos de pessoas que afirmavam ter visto ovni e concluía-se que não eram alucinações ou intrujices.
A reportagem acabava com uma frase digna de um episódio da "Twilight Zone": "Quem ou quê vai a bordo?
- De onde vêm eles?
- Por que estão aqui?
- Quais as suas intenções?

"Esta não foi a primeira vez que os media se interessavam pelos ovni - desde 1947 que outros casos tinham sido divulgados, incluindo a famosa história de Roswell, no Novo México, onde supostamente terá caído um disco voador com alienígenas a bordo.
Mas o artigo da "Life" tornou-se um marco, porque pela primeira vez uma publicação credível apoiava a teoria de que os ovni podiam ser naves extraterrestres.
A história transformou-se numa noticia bombástica, com direito a cobertura em 350 jornais norte americanos.
A Força Aérea dos EUA recebeu 23 relatos de pessoas que tinham avistado ovni em Março de 1952.
Em Abril recebeu 82, em Maio, 79 e em Junho chegou aos 148.
Teria aumentado o número de ovni nos céus da América?
Ou será que o artigo da "Life" levou as pessoas a dizer que viam coisas esquisitas no céu?
Os sete pontos luminosos apareceram nos ecrãs dos radares do Aeroporto Nacional de Washington às 23h40 de 19 de Julho de 1952.
Era uma noite clara, quente e húmida, e os controladores de tráfego viram as estranhas luzes atravessar os seus ecrãs, a velocidades entre os 160 a 210 quilómetros por hora, até desaparecerem, de repente.
Um controlador telefonou aos colegas das bases aéreas de Andrews e Bolling para saber se tinham detectado algo invulgar nos seus radares.
Tinham. Estavam a ver pontos luminosos nos mesmos sítios.
Pouco depois da 1h00, a torre do aeroporto contactou o piloto do voo que ligava Washington a Detroit para lhe perguntar se tinha visto objectos estranhos.
O capitão Casey Pierman, um piloto com 17 anos de experiência, respondeu: "Acaba de desaparecer um.
Era como uma estrela cadente, mas sem cauda".
Foram detectados pontos luminosos sobre a Casa Branca e o Capitólio.
Mas já passava das 3h00 quando dois F-94 partira, em busca das luzes.
Mas os pontos luminosos já tinham desaparecido dos radares.
Mas, depois de regressar à base, as luzes voltaram a surgir e só desapareceram ao amanhecer.
No sábado seguinte, 26 de Julho, aconteceu a mesma coisa.
Os controladores concluíram que uma camada de ar quente confundiu o radar, que identificou objectos que estavam no chão como estando no ar, já que as inversões de temperatura eram comuns em Washington nos dias quentes.
Ainda assim, pelas 23h00, aviões F-94 saíram para patrulhar os céus de Washington e as luzes sumiram-se.
Mas, quando regressaram à base, voltaram a aparecer pontos brilhantes nos radares. Pela 1h30, os aviões voltaram a descolar.
Um dos pilotos perseguiu as luzes estranhas, mas não as alcançou.
Na segunda-feira de manhã, a história dos ovni que escapavam a aviões de combate enchia as primeiras páginas dos jornais de todos os EUA.
"Não temos provas de que sejam discos voadores, mas também não temos provas de que não o sejam. Não sabemos o que são", disse um porta-voz da Força Aérea.Como não havia factos, o "Washington Daily News" satisfez-se com boatos.
O "rumor mais persistente" era o de que os discos voadores eram naves norte-americanas produzidas em segredo pela Boeing.
Um rumor "completamente absurdo" dizia que os objectos eram naves extraterrestres.O director dos serviços secretos militares, o general John Samford, convocou uma conferência de imprensa no Pentágono, e a sua actuação foi uma brilhante demonstração da arte de fugir às perguntas.
Quando os jornalistas o interrogaram sobre os avistamentos em Washington, Samford contou que, em 1950, um radar assinalou a passagem de um bando de patos no Japão.
Quando lhe perguntaram se o aeroporto de Washington e a Base de Andrews tinham visto simultaneamente aqueles objectos no céu, o general especulou sobre a definição da palavra "simultaneamente".
Inquirido sobre se achava que se tratavam de objectos materiais, começou a divagar sobre a definição da palavra "material".
Meio século depois, o debate continua.
"Há peritos e relatórios com opiniões divergentes", comenta Kevin Randle, autor do livro "Invasion Washington: UFO over the Capitol" (Invasão Washington: ovni sobre o Capitólio), sobre os avistamentos de 1952.
Mas Howard Cocklin, que na altura era controlar aéreo no aeroporto de Washington, ainda está convencido de que viu um objecto real. "Vi-o no ecrã e pela janela.
Era branco azulado, mas era sólido, em forma de disco".
Cocklin nunca viu nada como aquilo.
"Simplesmente desapareceu.
Para onde foram?
Porque é que surgiram só naquela altura?", interroga-se ainda, sentado no sofá da sua sala.

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