terça-feira, 22 de novembro de 2016

Terra um circo cósmico

Quando chegarem, cá para mim, mandam-nos para um circo cósmico

Leio aqui na Visão online que a NASA prevê encontrar vida fora da Terra nos próximos 20 anos.
O que significa que acredita que ela exista. E eu fico radiante de alegria, pois perco a vergonha de falar do assunto.
De facto, já tinha pensado escrever sobre isso e tenho evitado. Mas vamos por partes.

Toda a vida me fascinou esta questão.
Desde muito pequeno, imaginei que era de um planeta distante, o K 17 (por mim inventado), e que um dia os meus concidadãos me viriam buscar. Não fiz, claro, grande alarde da questão - podia ser maluco mas não era parvo - e mantive-me reservado até descobrir, não sei bem quando (provavelmente no princípio da minha idade adulta, já que tive o enorme privilégio de não ter tido adolescência e ter chegado a adulto vindo directamente da infância), esse fantástico livro que é o despertar dos mágicos, de Bergier e Pauwels.
Segui depois a carreira do J. Bergier e de todos os seus acólitos do "realismo fantástico", através, entre outros, dos seus múltiplos livros da célebre colecção preta da Bertrand.

Quando me tornei professor numa distinta universidade deste país, ousei um dia puxar o assunto junto dos meus colegas de departamento e só não fui apedrejado porque sou grande e era mais forte do que eles.
De qualquer maneira, não me livrei do ridículo de ser um pseudocientista que acreditava em seres do outro mundo.
Porque os extraterrestres são ainda piores do que as almas penadas, pois têm, como sabem todos os que vêem os filmes americanos de série B, cabeças de lagarto.

No entanto, nos meus estudos de Antropologia - felizmente, realizados bem longe daqui -, foi claro perceber-se que a teoria da evolução, apesar de inquestionável, tem "gatos", por vezes deparamos com evidências que sugerem uns quantos "empurrões" evolutivos.
Há depois, claro, centenas de factos e artefactos que são totalmente inexplicáveis à luz dos conhecimentos que possuímos.
No entanto, a nossa ciência oficial tem uma posição cómica: mesmo quando não sabe explicar, sabe o que não é aceitável como explicação.

Assim, os tipos lunáticos que acreditam que possa existir vida extraterrestre, embora acompanhados nessa humildade por alguns dos maiores cientistas que jamais existiram, são logo classificados como os imbecis que "acreditam em ovnis". E como a mediocridade humana tem muito prazer em divertir-se à custa dos outros, a chacota é monumental.
E depois há aqueles cineastas de que já falei, normalmente americanos, que fazem corar o Spielberg e dar-lhe vontade de ir viver, como o Brel, para as Marquises.
E não são necessariamente os criacionistas.
Nem sequer pessoas especialmente religiosas.
Grande parte são cientistas, ou professores universitários reputados, que nunca perceberam o que era verdadeiramente a ciência.

Muito bem. Um comentário sério: penso que a Humanidade ainda não está preparada.
Vamos precisar, nestes 20 anos, de passar muitas vezes os Encontros imediatos do 3º grau, com a autoridade do Truffaut a fazer de cientista.
Mas, muito mais importante do que isso, temos de pensar o que nós, terráqueos, temos para mostrar na fotografia: a guerra em Gaza e em todo o lado?
Ou seja, múltiplos seres humanos que se andam a matar uns aos outros, normalmente por causa da identidade de uns deuses antigos que, se calhar, foram extraterrestres que nos visitaram há milhares de anos (como postula a "teoria dos antigos astronautas")? A excisão feminina praticada em milhões de raparigas por todo o mundo (não devemos olhar de lado "os africanos subdesenvolvidos", porque se não existisse uma excisãozinha de outro tipo nos moços judeus, milhões deles teriam sobrevivido ao delírio nazi), como foi notícia esta semana?
A nossa ciência porventura tão débil?
Ou escondemos a malta toda e fazemos de conta que o planeta é só habitado por filósofos e artistas?

Se os extraterrestres tiverem a dimensão intelectual que se supõe, e se ela estiver, nesses outros mundos, associada a uma dimensão ética correspondente, deverão ter mais desprezo por nós do que o que sentimos pelos macacos.
Quando chegarem, cá para mim, mandam-nos para um circo cósmico.
Se essa associação não existir, e forem uns patifes, achar-nos-ão do melhor que há.

Em qualquer circunstância, estamos perdidos.


Visão 

1 comentário:

  1. Hoje ridicularizado, amanhã respeitado.

    "Se os extraterrestres tiverem a dimensão intelectual que se supõe, e se ela estiver, nesses outros mundos, associada a uma dimensão ética correspondente, deverão ter mais desprezo por nós do que o que sentimos pelos macacos.
    Quando chegarem, cá para mim, mandam-nos para um circo cósmico."

    Ou talvez, sentirão uma certa compaixão e compreensão, da mesma forma que um adulto sente por uma determinada criança que apesar de ter as suas virtudes enquanto criança que é, também consegue cometer erros, principalmente porque é imatura e sem grande conhecimento em relação a muitos aspectos da vida.

    Para além disso, tendo uma elevada dimensão ética, talvez não usem outros seres para se divertirem em circos. Como aliás em Portugal, nalgumas cidades, já não se aceitam circos com animais, apenas com o animal Homem.

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