Uma jornalista portuguesa fez um levantamento dos avistamentos que acontecem no país. E coisas (no mínimo) estranhas andam a passar-se nos nossos céus.
Vanessa Fidalgo, 38 anos, jornalista desde 1997, quase sem querer começou a especializar-se em fenómenos misteriosos.
Depois de Histórias de Um Portugal Assombrado (Esfera dos Livros, 2011), em que visita uma série de casas ditas assombradas em zonas como Sintra e Cascais, dedicou-se a um levantamento exaustivo dos casos de avistamentos de objetos voadores não identificados, um assunto que caiu em descrédito no século XXI, mas que fazia grandes parangonas nos anos 70 e 80 do século passado.
No mês passado lançou Avistamentos de OVNIS em Portugal, o primeiro livro, do género, de âmbito nacional, diz.
Em relação a estes assuntos, Vanessa mantém-se cética, mas, confessa, não voltou a olhar para os céus da mesma maneira.
Aliás, cita Einstein na epígrafe do seu livro: "Uma mente que se abre para uma nova ideia, nunca mais volta ao seu tamanho original. "
VISÃO- Nos anos 70 e 80, os relatos de avistamentos de OVNIS até podiam ser primeira página de jornal ou abertura de telejornal.
Hoje desapareceram ou foram remetidos para discretas colunas.
Na sua opinião, a que se deve esta quebra de interesse?
O facto de já não serem notícia está associado à perda de credibilidade das fotos e dos vídeos?
VANESSA FIDALGO - Penso que, por um lado, se deve ao facto de já não serem propriamente uma novidade.
No nosso país, a seguir ao 25 de Abril, houve um ‘boom’ de artigos e até mesmo publicações relacionados com este tema, movido pela própria abertura da época.
De fruto proibido passou a ser apetecido e, por isso, o entusiasmo do público também era muito.
Por outro lado, os meios técnicos vieram permitir captar imagens e, sobretudo, desvendar as ‘fraudes’ o que terá contribuído bastante para o desinteresse.
Além disso, vivemos tempos em que o conhecimento científico está muito mais acessível.
Qualquer pessoa que queira saber mais sobre o universo, pode ir ao site da NASA e ver as fantásticas imagens e os progressos obtidos pelas moderníssimas sondas espaciais…
Ao longo da sua pesquisa e recolha de depoimentos, passou a acreditar mais que podemos mesmo estar a ser visitados e observados?
Eu era bastante cética em relação ao assunto, mas houve testemunhos que não me deixaram indiferente e fizeram-me voltar a pensar as minhas próprias convicções. Por outro lado, prestei atenção - como nunca o tinha feito antes – aos avanços da astronomia, da astrofísica e da astrobiologia.
E sim, se os próprios especialistas acham que, talvez um dia, se encontre vestígios de vida num qualquer ponto distante do universo, eu também tenho de dar essa margem de benefício à dúvida.
Na sua opinião, o tema OVNIS pertence mais à categoria da ciência ou ao património das crenças e das mitologias?
Enquanto Objeto Voador Não Identificado pertence mais à categoria da ciência e da tecnologia até, se quiser.
É ao âmbito destas que cabe ‘desvendar’ o que os olhos incautos ou inexperientes observam.
Mas também há uma série de mitos associados aos OVNIS.
Até mesmo em Portugal, certos fenómenos e locais que culturalmente sempre foram associados à ocorrência de milagres também já foram, por oposição, questionados no âmbito da ovnilogia.
Há autores, por exemplo, que defendem que em Fátima o que aconteceu foram fenómenos celestes não identificados.
Enfim, são teorias. Mas são campos que facilmente podem andar de mãos dadas.
O próprio Papa Francisco falou recentemente de ETs...
O que o Papa Francisco referiu foi que, caso os extraterrestres chegassem à terra e quisessem ser batizados, a Igreja católica não deveria negar-lhes o acesso.
É obviamente uma metáfora que usou no seu discurso pela igualdade e a inclusão. No entanto, não deixa de ser curioso que até o Papa, ainda que genericamente, se mostre aberto a essa hipótese…
Houve alguma coisa que desconhecesse ou que a tivesse surpreendido ao recolher os testemunhos ou fazer a pesquisa para este livro?
De uma forma geral desconhecia que havia tantos relatos de avistamentos em Portugal e tantos testemunhos feitos por aviadores militares.
Foram esses, aliás, que mais me impressionaram e que mais me fizeram refletir. Porque acredito que estes homens sabem distinguir muito bem o que é normal ou não acontecer no céu.
Portugal é um país "crente" quanto à ufologia?
Há muitas pessoas e comunidades a acreditar?
Bastante, embora se calhar não de uma forma ‘assumida’. Há imensos blogues, foruns, páginas no Facebook para partilha de assuntos relacionados com o tema.
No entanto, também somo um país onde a maioria das pessoas não admite publicamente que leem estes sites.
Faz-me lembrar a questão das novelas: toda a gente conhece, mas ninguém vê.
Portugal é um país muito ou pouco "visitado"?
Não tenho nenhuma base de comparação estatística, e também não realizei nenhum levantamento noutros países, portanto, é difícil comprar.
Mas posso dizer que, por exemplo, na vizinha Espanha, há muito mais produção (e produção séria e com muita qualidade!) de literatura e documentários sobre o tema, certamente fruto do interesse do público.
Mas existe algum avistamento certificado, digamos assim, por autoridades oficiais?
Existe um avistamento, testemunhado em 1982 pelo tenente Júlio Guerra (e outros dois colegas seus), hoje piloto de uma companhia aérea comercial, que foi referido em vários livros de investigadores norte-americanos.
Foi um avistamento, ou melhor uma perseguição, que durou cerca de 20 minutos na zona da base aérea da OTA, em Alenquer.
Esse episódio está classificado internacionalmente como um dos que pertence à magra fatia de 5 por cento para a qual nunca foi encontrada explicação lógica e razoável. Também existe um relatório da Força Aérea elaborado pelo Tenente Carlos Marques Pereira, após ele e a sua tripulação de nove homens terem avistado um estranho fenómeno luminoso que quase os cegou. O mesmo fenómeno de luzes azuis foi avistado nessa mesma noite noutros pontos de Angola.
Depois de ter escrito o livro, passou a olhar para o céu com mais atenção?
Já viu alguma coisa suspeita?
Claro que sim.
É inevitável passar a olhar mais para o céu.
Pessoalmente, vi uma luz há uns anos atrás juntamente com um grupo de amigos. Uns acharam que era um Ovni, outros defenderam ser uma estrela cadente. Provavelmente podia ser um milhão de coisas.
Naturalmente, nunca soube o que foi.