terça-feira, 30 de agosto de 2016

Sinais de vida inteligente

Prof. Joaquim Fernandes
Neste tempo-espaço de ignomínias em forma de crescente religioso e boçalidade de fogo na mão, sinais inteligentes é o que mais urge encontrar. Algures, além desta natureza morta, infernal, com a marca de um Jeronimus Bosh, eclodem manifestações de sabedoria e compaixão. Nas trincheiras da resistência humana ao retrocesso da espécie, em templos de conhecimento - laboratórios e academias -, devotados sacerdotes acendem luminárias de esperança no exorcismo dos demónios, dos novos hunos que teimam em assumir a liderança deste insignificante e desprotegido orbe, filho de uma estrela de meia-idade, na solidão de um dos braços externos da galáxia.

Nem tudo são cinzas, marcas de aleivosia e crassa ignorância. E nesta urgência em que se reclamam atos de superação e sabedoria, há notícias consoladoras, balsâmicas, que contrariam a marcha funérea das legiões bárbaras. "Boas notícias, boas notícias" - eis o lema que aqui se institui, em contraciclo ao ditame clássico de teses comunicacionais que elegem o Mal como razão e alimento dos média. Bem os reconhecemos hoje, entre nós, em dramas continuados e intensivos, de que a sua bulimia catastrófica depende.

Entre o céu e a terra vão-se multiplicando, enfim, sinais de conforto para a humana espécie. Nas vastas searas do espaço interestelar, no vizinho sistema trinário da Proxima Centauri, a "apenas" a 4,25 anos-luz, um novo mundo "terrestre" desponta e oferece-se às cogitações dos cientistas e do futuro. O exo-planeta mais próximo de nós, em zona habitável e à distância de uma viagem de 20 anos, segundo o Projeto Starshot, fundado pelo bilionário russo Yuri Millner, que encara o envio de uma nanossonda exploratória ao eventual novo Éden, habitado pelos nossos vindouros colonos. Sem maçãs nem serpentes, espera-se...

Cá pela superfície novos aditamentos tecnológicos abrem inusitadas vias de sustentabilidade ao maltratado planeta que herdamos: há quem planeie que os fungos sejam agentes ativos na reciclagem das baterias de lítio recarregáveis. Um exército amigo do infinitamente pequeno para nos ajudar a reverter alguns danos no ecossistema. No mesmo sentido, avança a proposta de conversão do dióxido de carbono em combustível precioso e inócuo por ação do silício, o segundo elemento mais abundante à superfície terrestre, nas minas abertas das nossas praias.

Em plena "silly season" há sinais de vida inteligente. "Lux in umbra" - diriam os latinos.


Crédito - JN

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