domingo, 28 de outubro de 2012

Estamos mais próximos dos ETs


A descoberta de um planeta numa estrela vizinha do Sol mostra como cresceram as chances de encontrarmos vida fora da Terra


Se o desígnio da humanidade for um dia colonizar as estrelas, nas grandes navegações do futuro Alfa Centauri será um destino preferencial. Caso exista uma segunda Terra a povoar, é lá que ela deve se esconder. O sistema Alfa Centauri é composto de três estrelas. Alfa Centauri A e B têm dimensões próximas do Sol e orbitam uma em torno da outra. A terceira estrela, Proxima Centauri, é muito menor e gira em torno das outras duas. As três estrelas ficam a 4,3 anos-luz de distância (ou 41 trilhões de quilômetros). É uma distância inatingível com a tecnologia atual. Ainda assim, o sistema Alfa Centauri é o vizinho mais próximo de nosso Sistema Solar.
Essa vizinhança aumenta a importância do anúncio feito na semana passada por astrônomos europeus na revista britânica Nature. Os cientistas usaram o Observatório Europeu Sulino, noChile, para detectar um planeta rochoso do tamanho da Terra em órbita de Alfa Centauri B. Apesar do nome nada criativo, o planeta Alfa Centauri Bb é a descoberta mais aguardada desde que os primeiros planetas de outros sóis (os extrassolares) começaram a ser detectados em 1992. Já são conhecidos 842 planetas. Outros 2.300 aguardam confirmação.
Próxima parada: Alfa Centauri Bb (Foto: Ilustração: ESO/L. Calçada e gráfico Gerson Mora)
O achado de Alfa Centauri Bb é o ápice de uma série recente de descobertas que aumentaram as chances de encontrarmos vida extraterrestre. Além de planetas como a Terra ser mais comuns por aí do que se imaginava, pesquisas em microbiologia vêm mostrando que as bactérias, as formas primitivas e onipresentes de vida, conseguem proliferar em condições mais adversas do que se previa. E mais: novas evidências sugerem que, havendo chance, a vida se instala e evolui mais rápido do que se supunha. Tudo isso significa que as possibilidades de esbarrarmos em mundos habitados lá fora se multiplicaram. Só não espere ETs muito evoluídos ainda.
Alfa Centauri Bb, propriamente dito, não é um mundo hospitaleiro. É infernal, com temperaturas de 1.200 graus. Tem uma órbita equivalente à de Mercúrio, o planeta mais próximo de nosso Sol. Uma segunda Terra precisaria estar na região em torno de uma estrela onde as temperaturas são amenas o suficiente para permitir a existência de água em estado líquido na superfície, conhecida como zona habitável. A Terra fica bem no meio da zona habitável do Sistema Solar. Marte, no limite externo, é gelado. Vênus é um forno. Alfa Centauri Bb não está numa órbita amena, mas saber que existe suscita grandes esperanças de achar um planeta capaz de abrigar vida. A experiência mostra que planetas não costumam andar sozinhos. Os 842 planetas conhecidos fora do Sistema Solar se congregam em 664 sistemas planetários. Segundo um dos autores da pesquisa, o suíço Stephane Udry, “achar um planeta pequeno (como Alfa Centauri Bb) significa haver uma grande probabilidade de encontrar outros, incluindo na zona habitável”.
Quantos planetas não se esconderiam no sistema Alfa Centauri? Detectar todos passou a ser uma prioridade da astronomia. Uma vez achado um gêmeo da Terra – algo com chance de ocorrer na próxima década –, o passo seguinte seria identificar os elementos químicos de sua atmosfera alienígena. Isso é possível com observatórios astronômicos de alta precisão. Se os instrumentos revelarem traços de água, oxigênio e nitrogênio, seria um planeta candidato a abrigar vida. Caso encontrem carbono, o elemento constitutivo da vida, melhor ainda. Mas seria vida bacteriana, multicelular ou inteligente? O astrônomo americano Carl Sagan costumava dizer que “suposições extraordinárias exigem evidências extraordinárias”. A única forma de verificar seria ir até Alfa Centauri.
Daqui até lá é uma boa esticada. Um fóton, uma partícula de luz cruzando o espaço a 300.000 quilômetros por hora, completa 7,5 voltas na Terra em um segundo. Nessa velocidade, ele levaria 4,3 anos para atingir Alfa Centauri. Se vivêssemos no século XXIII fictício do seriado Jornada na estrelas e estivéssemos zunindo no espaço a bordo da nave estelar Enterprise, bastariam sete dias, 14 horas, 38 minutos e 24 segundos para visitar Alfa Centauri. Na vida real, limitada à tecnologia de transporte espacial existente, uma nave precisaria de 76.850 anos para completar o percurso, voando a 17 quilômetros por segundo, a velocidade da sonda Voyager I, o veículo mais rápido já disparado pelo homem.
No futuro, talvez o engenho humano consiga criar meios para viajar muito mais rápido. Uma nave que acelere a 30% da velocidade da luz levaria menos de 13 anos para alcançar o sistema Centauri. Seria um tempo de viagem aceitável para futuros astronautas, dispostos a embarcar numa travessia sem volta para colonizar as estrelas? Era esse o motivo da saga interplanetária da família Robinson, os heróis do seriado Perdidos no espaço. Sua missão era iniciar a colonização de um planeta em Alfa Centauri. Perderam-se pelo caminho. Se tivessem conseguido, o que encontrariam?
NOVOS MUNDOS Ilustrações dos planetas Zarmina (no alto) e Kepler 22b. Eles poderiam abrigar vida, pois ficam na zona habitável de seus sistemas solares, a 600 anos-luz e 22 anos-luz daTerra, respectivamente. São mundos distantes (Foto: Lynette Cook e NASA/Ames/JPL-Caltech)
Quanto mais os biólogos investigam os locais inóspitos de nosso planeta, mais se surpreendem com a resistência dos micro-organismos. Não importa se vivendo em água a 350 graus, num lago hiperácido que dissolve ossos, ou imersas em banho radioativo, sempre se encontra uma espécie de bactéria adaptada a ambientes extremos onde nenhuma outra prolifera. 
As bactérias são as formas de vida mais antigas do planeta. Bastou que a Terra se formasse e sua crosta solidificasse para que, há 3,8 bilhões de anos, elas começassem a pulular em oceanos primordiais. Os domínios da vida permaneceram microscópicos por 3 bilhões de anos. De repente, há 600 milhões de anos algo aconteceu. Surgiram os primeiros animais e plantas. Desde então, uma explosão de criatividade anatômica permitiu à fauna e à flora assumir formas e proporções inéditas e maravilhosas. Os anfíbios gigantes deram lugar aos dinossauros, que cederam a vez aos mamíferos.
Os exobiólogos, estudiosos de vida alienígena, partem da experiência terrestre para apostar que, diante de condições propícias à evolução da vida num planeta extrassolar, ela se instalaria rapidamente. Com o tempo, a vida evoluiria em formas e cores – sem necessariamente desembocar em espécies inteligentes.
Embora a vida seja fácil, bastando boas condições para que surja, a inteligência é um evento mais raro. A vida na Terra precisou de 3,5 bilhões de anos para chegar a seres dotados de consciência. E nas estrelas? Em 1961, o astrônomo americano Frank Drake procurou estimar o número de civilizações na Via Láctea. Chegou a um total de 10 mil. Três décadas antes da descoberta dos planetas extras-solares, Drake ponderou que só uma em cada dez estrelas teria planetas. Para Drake, a existência de sistemas planetários era a exceção. Hoje se sabe que é regra. Refazendo os cálculos a partir das novas evidências, é possível supor que nossa galáxia abrigue 100 mil civilizações. Uma talvez habite Zarmina, um planeta a 600 anos-luz. Ou então Kepler 22b. Mais próximo, fica a 22 anos-luz.
Quando se avistar uma nova Terra em Alfa Centauri, a probabillidade será que abrigue vida bacteriana. Com muita sorte, terá algo que poderemos classificar como animais. Seres inteligentes, é muito improvável. Ainda levará séculos para fazermos contato com ETs.

Crédito de informação revistaepoca.globo.com

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