O físico brasileiro Marcelo Gleiser conversou com VEJA sobre a busca por vida em outros planetas.
O pesquisador está reunido em São Paulo em encontro que discute a origem da vida na Terra e a existência extraterrestre.
Concepção artística de como seria uma possível manifestação da vida em um dos exoplanetas orbitando a estrela anã Gliese 581, na constelação de Libra (Walter Myers)
Pesquisadores e estudantes do Brasil, Chile, Colômbia, Europa e América do Norte estão reunidos em São Paulo para discutir a origem da vida na Terra e em outros planetas até 20 de dezembro. As discussões fazem parte do encontro Escola Avançada de Astrobiologia, financiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa no Estado de São Paulo e organizada pelo Instituto de Física da Universidade de São Paulo.
Vida única: "É impossível que dois planetas tenham a mesma história"
O evento foi aberto com a palestra do físico brasileiro Marcelo Gleiser.
Dartmouth College
O pesquisador mora há 20 anos nos Estados Unidos e é professor da Universidade de Dartmouth, onde leciona e pesquisa cosmologia e astrobiologia. Gleiser é também autor de sete livros de divulgação científica, entre eles A Dança do Universo (Companhia das Letras, 24,90 reais, 434 páginas), que trata da questão da origem do universo tanto sob o ponto de vista científico quanto religioso. Em 1998, o livro ganhou o prêmio Jabuti, o mais importante prêmio da literatura brasileira.
Antes da palestra, Gleiser conversou com o site de VEJA sobre a incessante busca por vida em outros lugares do universo e por que essa jornada melhora a compreensão da vida na Terra.
Faz sentido procurar vida fora da Terra?
A astrobiologia não pretende estudar somente a vida fora da Terra.
Queremos entender a origem da vida aqui no planeta.
Apesar de estudarmos outros planetas, um dos pontos focais mais importantes é entender quais foram os mecanismos que permitiram a formação de vida na Terra.
É uma espécie de ponte para entender como a vida pode ter surgido em outros lugares.
Os cientistas estão perto de descobrir como a vida surgiu na Terra?
Não. A verdade é que ainda não descobrimos e talvez nunca possamos saber exatamente como a vida surgiu aqui.
Por quê?
Porque nunca poderemos recriar as condições da Terra há quatro bilhões de anos, quando a vida surgiu.
Contudo, podemos estudar os canais bioquímicos viáveis que podem ter levado à autoestruturação de moléculas que chamamos de vida.
O senhor acha que existe vida fora da Terra?
A vida existe fora da Terra, não tenho a menor dúvida.
O que o faz pensar isso?
As leis da física e da química são as mesmas em qualquer lugar do universo.
Só a Via Láctea possui 200 bilhões de estrelas. Cerca de 20% com sistemas planetários e luas.
Os números são ridiculamente grandes.
Mas só os números sozinhos não nos dão certeza...
Já estamos encontrando planetas que podem ser muito parecidos com a Terra, como o Kepler 22b, anunciado recentemente. Isso quer dizer que a probabilidade é muito alta de que outros planetas possuam uma vida parecida com a nossa.
Esses planetas abrigariam seres inteligentes?
Aí é uma questão diferente.
Não estou falando de coisas complexas, mas de vida simples parecida com a nossa, baseada em carbono, com uma genética normal de DNA.
E vida complexa?
Entendo que a vida se forma em três níveis: simples, complexa e complexa inteligente.
A vida simples são os seres unicelulares.
Os dinossauros eram complexos, mas não eram inteligentes.
A vida inteligente precisa de pulos evolucionários que talvez nunca sejam repetidos.
Como assim?
Se outro planeta abrigar vida complexa inteligente, não será primata, dinossauro nem nada do que conhecemos.
A história da vida na Terra é única, assim como a história de cada planeta.
No nosso caso, houve um asteroide que se chocou com o planeta há 65 milhões de anos e acabou com os animais dominantes, abrindo espaço para outros prosperarem.
Essas questões estão ligadas às erupções vulcânicas em massa e tragédias com colisões cósmicas. Essas coisas não se repetem da mesma maneira em dois planetas diferentes.
Cada vez que isso acontece, a vida começa de novo.
É por isso que não tenho a menor dúvida de que a nossa história é única.
Somos únicos no universo.
Crédito de informação - http://veja.abril.com.br
O pesquisador está reunido em São Paulo em encontro que discute a origem da vida na Terra e a existência extraterrestre.
Marco Túlio Pires
Concepção artística de como seria uma possível manifestação da vida em um dos exoplanetas orbitando a estrela anã Gliese 581, na constelação de Libra (Walter Myers)
O pesquisador mora há 20 anos nos Estados Unidos e é professor da Universidade de Dartmouth, onde leciona e pesquisa cosmologia e astrobiologia. Gleiser é também autor de sete livros de divulgação científica, entre eles A Dança do Universo (Companhia das Letras, 24,90 reais, 434 páginas), que trata da questão da origem do universo tanto sob o ponto de vista científico quanto religioso. Em 1998, o livro ganhou o prêmio Jabuti, o mais importante prêmio da literatura brasileira.
Antes da palestra, Gleiser conversou com o site de VEJA sobre a incessante busca por vida em outros lugares do universo e por que essa jornada melhora a compreensão da vida na Terra.
Faz sentido procurar vida fora da Terra?
A astrobiologia não pretende estudar somente a vida fora da Terra.
Queremos entender a origem da vida aqui no planeta.
Apesar de estudarmos outros planetas, um dos pontos focais mais importantes é entender quais foram os mecanismos que permitiram a formação de vida na Terra.
É uma espécie de ponte para entender como a vida pode ter surgido em outros lugares.
Os cientistas estão perto de descobrir como a vida surgiu na Terra?
Não. A verdade é que ainda não descobrimos e talvez nunca possamos saber exatamente como a vida surgiu aqui.
Por quê?
Porque nunca poderemos recriar as condições da Terra há quatro bilhões de anos, quando a vida surgiu.
Contudo, podemos estudar os canais bioquímicos viáveis que podem ter levado à autoestruturação de moléculas que chamamos de vida.
O senhor acha que existe vida fora da Terra?
A vida existe fora da Terra, não tenho a menor dúvida.
O que o faz pensar isso?
As leis da física e da química são as mesmas em qualquer lugar do universo.
Só a Via Láctea possui 200 bilhões de estrelas. Cerca de 20% com sistemas planetários e luas.
Os números são ridiculamente grandes.
Mas só os números sozinhos não nos dão certeza...
Já estamos encontrando planetas que podem ser muito parecidos com a Terra, como o Kepler 22b, anunciado recentemente. Isso quer dizer que a probabilidade é muito alta de que outros planetas possuam uma vida parecida com a nossa.
Esses planetas abrigariam seres inteligentes?
Aí é uma questão diferente.
Não estou falando de coisas complexas, mas de vida simples parecida com a nossa, baseada em carbono, com uma genética normal de DNA.
E vida complexa?
Entendo que a vida se forma em três níveis: simples, complexa e complexa inteligente.
A vida simples são os seres unicelulares.
Os dinossauros eram complexos, mas não eram inteligentes.
A vida inteligente precisa de pulos evolucionários que talvez nunca sejam repetidos.
Como assim?
Se outro planeta abrigar vida complexa inteligente, não será primata, dinossauro nem nada do que conhecemos.
A história da vida na Terra é única, assim como a história de cada planeta.
No nosso caso, houve um asteroide que se chocou com o planeta há 65 milhões de anos e acabou com os animais dominantes, abrindo espaço para outros prosperarem.
Essas questões estão ligadas às erupções vulcânicas em massa e tragédias com colisões cósmicas. Essas coisas não se repetem da mesma maneira em dois planetas diferentes.
Cada vez que isso acontece, a vida começa de novo.
É por isso que não tenho a menor dúvida de que a nossa história é única.
Somos únicos no universo.
Crédito de informação - http://veja.abril.com.br
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