sábado, 3 de maio de 2008

Coimbra: Museu da Universidade revela astro-rei

Ricardo Almeida

Coimbra: Museu da Universidade revela astro-rei

Crianças vêem segredos do Sol

Saber que o Sol atinge seis mil graus de temperatura pode parecer assustador, sobretudo quando já começa a ser insuportável nas alturas em que os termómetros chegam aos 40 na Terra. Ainda mais assustador é descobrir que algo essencial à vida no nosso planeta acabará por desaparecer.



Imprescindível e perigoso, o astro-rei é muitas vezes um mistério para a Humanidade. O calendário dedica-lhe o dia 3 de Maio e o Museu da Ciência da Universidade de Coimbra aproveitou para revelar a crianças e jovens alguns segredos da estrela. A iniciativa ‘4 dias 1 Sol’ teve início na terça-feira e termina hoje. Ao longo da semana, alunos de escolas de todo o País puderam observar o astro, conhecer o Sistema Solar e participar em ateliês pedagógicos.

"Sabem quantotempo demora o Sol a dar a volta sobresi próprio?" Quemperguntaé JoanaRebelo, responsável pela área educativa do Museu, a 24 alunos do 4.º ano da Escola EB1 de Barcouço (Mealhada). "Vinte e seis dias", responde, perante a admiração das crianças sentadas no chão diante de um globo onde são reflectidos os planetas.

"O Sol tem quase cinco mil milhões de anos e está a 150 milhões de quilómetros da Terra", continua JoanaRebelo,lançando mais um desafio. As explicações sucedem-se e os alunos já se sentem astronautas. Ficam a saber que o Sol é uma estrela, uma enorme esfera de gás e plasma composta essencialmente por hidrogénio e hélio, cujo diâmetro mede 1,4 mil milhões de quilómetros.

Aos alunos do Secundário, Joana Rebelo costuma explicar ainda que o Sol brilha por causa da temperatura da fotosfera, responsável pela cor amarelo-alaranjada da estrela. Revela que a luz do Sol não se deve a nenhuma reacção química, mas sim a uma reacção de fusão nuclear que decorre no seu centro, onde a junção de átomos de hidrogénio é transformada em hélio, sendo deste processo que resulta a energia que nos permite viver. Para a maioria é uma novidade saber que o Sol vai desaparecer dentro de 4,5 mil milhões de anos e que o Homem já acreditou que, durante a noite, uma deusa com um manto de estrelas tapava o céu e ‘escondia’ o Sol.

Acabada a explicação, os alunos de Barcouço e Praia de Mira fizeram, com cartolina e plasticina, um simulador de eclipses solares. Empenhada no trabalho, Ana Francisca, 10 anos, da EB1 da Praia de Mira, dizia: "Não há extraterrestres. Os astronautas andam à procura para ver se há vida noutro lado. Mas não há, pois não?" "Não acreditamos neles", afiançava Jaime Maçarico, do alto dos seus nove anos. "Mas se existem são muito mais inteligentes do que nós", rematou Emanuel Cuco, um ano mais velho. Pelo sim pelo não, as crianças desenharam o universo repleto de estrelas, foguetões e seres verdes com antenas.

"OBJECTIVO É SEREM AUNTÓNOMAS" (Joana Rebelo, responsável pela área educativa)

Correio da Manhã – Como se explica o Sol?

Joana Rebelo – Às crianças falamos das características mais simples do Sol. Dizemos que é muito quente, roda sobre si próprio…Aos mais velhos falamos das reacções nucleares e outras questões mais complexas relacionadas com a luz, por exemplo.

– Além da partemais teórica, que actividades os alunos desenvolveram?

– Fizeram um trabalho com questões sobre o Sol: observação solar, observação e desenho das manchas solares e ateliês em que realizaram um simulador de eclipses.

– Como se preparam actividadesparatornara Ciênciaacessívelaos mais novos?

– Temos de experimentar as actividades que desenvolvemos e ver se são adequadas às idades. O objectivo é que as crianças sejam autónomas e considerem as tarefas interessantes.

NÚMERO DE VISITANTES A CRESCER

Aberto ao público desde Dezembro de 2006, o Museu da Ciência da Universidade de Coimbra foi criado com o objectivo de "promover o conhecimento científico" e "reunir o acervo disperso por vários museus universitários e pelas faculdades", explica o seu director, Paulo Gama Mota. O museu funciona no antigo Laboratório Chimico, recuperado para o efeito, e acolhe a exposição permanente ‘Segredos da Luz e da Matéria’. Com um ano e meio de existência, já recebeu 28 mil visitantes.

"De Janeiro a Abril deste ano, tivemos um crescimento de 80 por cento no número de visitas em relação a 2007", afirma Paulo Gama Mota, atribuindo o sucesso às actividades como os ‘Sábados no Museu’, para crianças a partir dos cinco anos, exposições e palestras. Até ao fim do ano, está patente a exposição temporária ‘A Diversidade da Vida – 300 Anos de Lineu’, que será substituída por outra dedicada aos 200 anos de Darwin.

SIMULADOR

A Sala do Globo (na foto), no Museu da Ciência da Universidade de Coimbra, está equipada com umsimulador que permitevisualizar os diferentes planetas do Sistema Solar e conhecer as suascaracterísticas. O sistema, que permite reflectira imagem num globo,disponibiliza aindadiversa informaçãosobre cada umdos planetas.

PLANETAS ANÕES

Os cientistas sabem hoje que em torno do Sol gravitam pelo menos oito planetas (Mercúrio, Vénus, Terra [na imagem ao lado, observada pelos alunos em Coimbra], Marte, Júpiter, Saturno, Úrano e Neptuno), três planetas anões (Ceres, Plutão e Éris), 1600 asteróides, 138 satélites e um grande número de cometas.

CAMADAS

O Sol é formado por um núcleo, onde se dão as reacções nucleares; a zona radioactiva e a zona convectiva. As erupções solares ocorrem na zona exterior solar (a cromosfera).

DETALHES

ACTIVIDADES

O Observatório Astronómico da Universidade de Coimbra também promoveu actividades relacionadas com o Dia do Sol, nas quais participaram 150 crianças e jovens de vários estabelecimentos de ensino. A iniciativa inseriu-se no âmbito do projecto ‘Sol para Todos’, criado pelo Observatório em 2007.

ESPÓLIO

Ao longo de mais de oito décadas de observações solares realizadas todos os dias, o Observatório Astronómico, criado em 1926, já reuniu um espólio de mais de 30 mil imagens (espectro-heliogramas) do astro-rei.

Cátia Vicente
Correio da Manhã

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