Prof. Joaquim Fernandes |
“Se ao cachopos viram uma mulher vestida de branco, quem poderia ser senão Nossa Senhora?” – António da Silva, tio da vidente Jacinta Marto.
Descrição inicial de Lúcia constante do “Inquérito Paroquial”, redigido pelo pároco de Fátima, Manuel Marques Ferreira, provavelmente em Outubro de 1917, e publicado no jornal O Mensageiro, pelo Visconde de Montelo, em Novembro seguinte:
“Disse a Lúcia que a Senhora vinha vestida de um branco que dava luz.
A saia era branca e dourada, aos cordõezinhos ao comprido e atravessos ( atravessados) e era curta, isto é, não descia até aos pés.
O casaco era branco, não dourado.
Manto branco, que da cabeça descia até à orla da saia, dourado aos cordõezinhos de alto a baixo e atravessos; nas orlas o ouro era mais junto.
O casaco tinha dois ou três cordõezinhos nos punhos.
Não tinha cinto, ou faixa à cintura.
Parecia-lhe que tinha meias brancas, não douradas, mas que não dava a certeza, porque para pouco mais olhava do que para o rosto”.
Noutras passagens do seu interrogatório a vidente exprime a ideia de que a Dama de Branco se comparava a “uma jovem de 12 a 15 anos” e com “um pouco mais de 1 metro de altura”.
Esta descrição pouco ou nada tem e ver com a imagem venerada no santuário de Fátima como sendo o retrato de Maria, Virgem da Nazaré, ali exposta desde 1920.
Segundo o professor Xavier Coutinho, padre e especialista de História da Arte, o escultor bracarense J. Thedim inspirou-se numa imagem da Senhora da Lapa, do catálogo da Casa Estrela, de 1914, “com pequenas modificações de pormenor”.
Não é difícil de perceber que o “retrato” original de Lúcia dos Santos no “Inquérito Paroquial” acima descrito, seria impensável de aceitar como legítima representação de uma “Nossa Senhora”, e do seu estereótipo aceite na cultura católica e na escultura de referência. O ícone só poderia sobrepor-se a uma “realidade” divergente dos códigos e das crenças populares do marianismo…
Assim se constrói um mito e se mascara a Verdade possível.
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